O Barco.
Estou em um barco, é à noite, vejo a lua brilhar no céu.
neste.aquele.todos céus.
aqueles dias e dias, meses e meses, anos e anos.
aquele céu que ilumina, mas também não faz diferença.
aquele céu que produz algo, em nós, e aquele que nem mesmo é percebido
um barco.
um barco que possui um remo, estou perto da costa, consigo ver a praia de onde estou.
mas estou no barco e no mar
a imensidão do mar
a água e a profundeza abaixo e além de mim
se não tivesse esse barco…não sou nada nesse ambiente onde não pertenço
um barco me guia e me leva daqui pra lá, de lá pra cá, porque sem ele eu não poderia
poderia lutar, velejar, guiar o barco
para a beira, para o firme
mas não, calma. estou no barco, por opção.
adquiri o barco para exatamente essa ocasião: estar no barco no meio do mar
escolhi a dedo, o construí com minhas próprias mãos.O barco.
mas como em toda construção, o seu construtor nunca está satisfeito. Há sempre algo aqui e ali para remendar no barco. Mesmo assim, eu o utilizo. e agora estou no mar, à noite, olhando a lua me ilumina, pensando em quanto tempo terei que rever minha construção, meu barco. Por vezes me pego afoito: o barco pode afundar em qualquer momento… e se eu estiver, assim, como agora, no mar, à noite, olhando a lua e de repente: o barco afunda. Estou perto da beira, mas poderia uma correnteza me levar para longe. nada é certo. por isso mesmo, a preocupação com o barco. para que ele não afunde. Em outros momentos posso pensar que o barco não poderia estar melhor. o construí, fiz do meu melhor para construí-lo para que ele pudesse me abrigar nesses momentos onde tudo que eu preciso é um retiro no meio do mar, a noite, olhando a lua, percebendo a imensidão do mar.